VEXAME DA MÍDIA

A velhinha e o parkour de Taubaté

Brás Oscar · 30 de Janeiro de 2020 às 14:31 ·
O que o jornalismo-fanfic nos ensina sobre factoide, agenda e manipulação. Ou: quando a agenda dos jornalistas vale muito mais que a realidade

Eu nasci numa cidadezinha no interior de Rondônia. Fui criado em outra menor ainda no interior de São Paulo. Uma das poucas coisas que ambas tinham em comum era a quantidade de notícias de origem duvidosa que acabavam se tornando algo como um capítulo não muito canônico da história local.

Na cidadezinha do interior de São Paulo, tínhamos desde um mendigo que se dizia- primo de Castro Alves até o Benedito, vulgo Dito, senhor ermitão que era o nosso lobisomem oficial — penso que depois de tantos anos a repetirem esses boatos, ninguém em Mirante do Paranapanema duvidava do parentesco do caricato pedinte com o poeta baiano, e o próprio Dito devia de  ter certeza que se transformava em bicho na primeira sexta-feira de lua cheia da Quaresma.

Apesar da diferença brutal de proporção entre as lorotas interioranas e as grandes mentiras criadas a fim de manipular a opinião pública, ambas se baseiam num mesmo mecanismo — a repetição de uma mentira até o ponto das pessoas acreditarem na história que lhes é contada mesmo que esta se contraponha à realidade senciente. É como se o dom dado aos homens para fantasiar e criar ficção viesse acompanhado da maldição de sermos facilmente propensos a crer nas nossas próprias fantasias, confundindo às vezes realidade e pensamentos desejosos.

 

Continue lendo
Já tem uma conta? Faça login


ARTIGOS RELACIONADOS