GEOPOLÍTICA

Aliança militar anti-China que reúne Austrália, Reino Unido e Estados Unidos pode ter Japão como próximo membro

Brás Oscar · 26 de Abril de 2024 às 14:39 ·

O ímpeto de Washington para o envolvimento de Tóquio no grupo mostra um foco estratégico nos conflitos que podem surgir na região do Pacífico

Austrália, Reino Unido e Estados Unidos possuem uma parceria estratégica conhecida pela sigla AUKUS (iniciais em inglês de Australia, United Kingdom e United States) que tem a intenção de ser uma das alianças de segurança nacional mais intimamente integradas do seu tipo. O AUKUS foi anunciado pela primeira vez em setembro de 2021 como uma resposta direta à ameaça que a China representa para suas respectivas seguranças nacionais.

Diante disso, a proposta recente do embaixador dos Estados Unidos em Tóquio de incluir o Japão neste grupo desencadeou debates intensos sobre o futuro da segurança regional. A reação imediata do primeiro-ministro australiano foi tentar minimizar a sugestão, ressaltando que não está nos planos adicionar novos membros ao grupo. Entretanto, o Japão já cultiva uma conexão especial com o consórcio e pareceu muito interessado no convite dos americanos.

O AUKUS foi formado independentemente de outra aliança regional que visa organização de compartilhamento de inteligência, o Five Eyes, que inclui os membros do AUKUS e também o Canadá e a Nova Zelândia. Além disso há outra aliança militar na região da qual o Japão já faz parte, o QUAD, compostos ainda por Estados Unidos, Austrália e Índia.

A primeira fase do AUKUS, que está atualmente em andamento, visa fornecer à Austrália submarinos de ataque convencionalmente armados e movidos a energia nuclear, sendo a primeira vez que essas tecnologias estão sendo compartilhadas com um estado não nuclear.

Esses submarinos são muito mais avançados do que os tradicionais movidos a diesel, podem viajar debaixo d'água por muito mais tempo e não emitem nenhum sinal sonoro. Eles serão desenvolvidos de forma trilateral, com base em um design britânico de próxima geração que incorpora tecnologia de todas as três nações, incluindo tecnologias de submarinos de ponta dos Estados Unidos, demonstrando a colaboração entre os parceiros dos segredos de tecnologia militar mais importantes.

A segunda fase — na qual o Japão foi convidado para o grupo — realiza uma integração muito mais estreita das forças armadas dos três aliados. Isso inclui colaboração no desenvolvimento de tecnologias emergentes, incluindo capacidades submarinas, tecnologias quânticas, inteligência artificial, capacidades cibernéticas avançadas, armas hipersônicas e contra-hipersônicas, capacidades de guerra eletrônica, inovação combinada e compartilhamento de informações e conhecimentos. E como essas aplicações dependem do máximo sigilo, elas só podem ser compartilhadas com aliados mais confiáveis — um ponto que a Austrália e o Reino Unido têm repetidamente enfatizado.

Apesar de outros aliados dos EUA estarem em discussões semelhantes, o Japão emerge como um candidato de destaque devido às suas capacidades tecnológicas avançadas e um crescente papel na segurança regional. Se bem que o Japão ainda não seja formalmente aceito no AUKUS, as recentes assinaturas de acordos de defesa com os EUA e outros aliados indicam um alinhamento estratégico crescente.

Durante uma viagem recente a Washington, o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, assinou vários acordos de defesa, entre eles um acordo trilateral que inclui as Filipinas, que, como o Japão, tem sido um ponto importante nos esforços americanos para conter a China.

Entretanto, Londres e Camberra expressaram preocupações sobre a segurança da informação no Japão, destacando a necessidade de aprimoramentos nas defesas cibernéticas e nos processos de compartilhamento de informações antes da admissão de novos membros.

O AUKUS foi essencialmente projetado para deter e conter a China. O desenvolvimento de submarinos australianos e a integração de tecnologia de inteligência e militar são os principais esforços da aliança para atingirem esse objetivo e o aporte do Japão para o grupo pode ser importante nos quesitos inteligência e tecnologia, pois mesmo mantendo-se isento de participação militar fora dos limites nacionais por décadas – situação que só mudou recentemente — as Forças de Autodefesa do Japão trabalham intimamente com os americanos desde o fim da ocupação da ilha pelo EUA após a Segunda Guerra Mundial visando a proteção de seu território das ameaças chinesas e norte-coreanas. 

Washington é o único a defender a inclusão do Japão no AUKUS, mas essa decisão diz muito sobre as prioridades dos americanos daqui para frente e diz muito também a seus demais parceiros: a América vê o Japão como um aliado em pé de igualdade com Austrália e Reino Unido.

Em última análise, a inclusão potencial do Japão no AUKUS reflete os esforços contínuos dos Estados Unidos para conter a China e fortalecer as alianças na região do Pacífico. Mesmo que a adesão japonesa possa não acontecer imediatamente, as conversas em torno dela indicam a crescente importância atribuída ao fortalecimento das relações regionais e a nova maneira como as potências ocidentais enxergam a ameaça comunista de Pequim.

 


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