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Enchente de estupidez: Marina Silva não apresenta soluções e faz palanque ideológico sobre a tragédia

Brás Oscar · 24 de Maio de 2024 às 16:16 ·

Longe de buscar soluções imediatas para as vítimas, a ministra do Meio Ambiente de Lula apontou os culpados de sempre (Bolsonaro e agronegócio) e fez discurso político sobre mudanças climáticas e propriedade privada
 

A catástrofe no Rio Grande do Sul foi transformada em palanque político e ideológico pela administração Lula e sua ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que não cessou de dar declarações para a imprensa nos últimos 15 dias, contrariando sua habitual inércia e figuração na política brasileira.

As falas de Marina passam longe de soluções imediatas para as vítimas e para a contenção dos danos da tragédia — que é o que se esperaria neste momento — mas variaram entre apontar os culpados de sempre para todos os problemas da pasta da ministra — Bolsonaro e os produtores rurais — e fazer discursos questionáveis sobre mudanças climáticas e direitos de propriedade privada.

O principal argumento da ministra é que há aumento desenfreado do desmatamento no Brasil e as consequências disso são catastróficas não só para o Rio Grande do Sul, mas para o mundo inteiro. O seu ministério, que agora foi rebatizado para “do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas” advoga políticas que restringem o uso da propriedade privada e que limitam ao máximo a exploração da floresta, sugerindo constantemente uma busca por um “desenvolvimento sustentável”.

A posição extremista de Marina Silva sobre a Amazônia é baseada numa crença pouco científica de que a manutenção da quase totalidade da cobertura florestal brasileira, principalmente na Amazônia, é crucial para evitar um acontecimento que possui quase tons proféticos: a mudança climática antropogênica. A base de tal crença é a suposição de que a Amazônia desempenha um papel vital na absorção do CO₂ mundial e é responsável pela regulação do ciclo hidrológico em boa parte do planeta.

Com políticas ambientais que estão mais no campo das crenças políticas que no dos argumentos científicos, o Brasil acaba se distanciando cada vez mais de equilibrar o desenvolvimento econômico com a conservação ambiental.

Esse atraso brutal em nossa economia serve muito à agenda progressista dos países desenvolvidos que, além de majoritariamente não preservarem suas reservas florestas, atuam como verdadeiros patrões de Marina Silva, para o espanto de quem viveu o suficiente para ver a esquerda não ter vergonha de ser capacho de políticos e banqueiros europeus e americanos que usam o mainstream da indústria cultural capitalista como agência de propaganda.

Este colunista teve o insalubre trabalho de ler e elencar as principais declarações da ministra Marina Silva para a imprensa durante as inundações no Rio Grande do Sul e isolar os pontos principais de seu discurso. Vamos lá.

 

Entrevista ao jornal O Globo em 8 de maio:

A tragédia no Rio Grande do Sul é um alerta climático

A ministra enfatizou que a tragédia das chuvas é, acima de tudo, um alerta para o desequilíbrio climático global causado pelo homem, principalmente pelo agronegócio. Marina parece não se importar em culpar os próprios gaúchos pela devastação das cidades, mortes e prejuízos incalculáveis, afinal, o Rio Grande do Sul é um dos principais líderes do agronegócio brasileiro, com níveis de produção de importância mundial. Na entrevista, a ministra de Lula insiste em platitudes e abstrações como “necessidade de consciência” do risco e “mobilização da sociedade” para enfrentar o problema, parecendo desconhecer ou preferindo ignorar que a sociedade já se mobilizava sozinha e de forma organizada, enquanto o governo federal dava prioridade para controlar a liberdade de expressão nas redes sociais e pautar o noticiário da grande mídia.

Consciência ambiental

A ministra afirma que as inundações já provocaram uma ampliação da consciência ambiental após a tragédia. Como que numa realidade paralela, Marina acredita mesmo que os enlutados e desabrigados estão, neste momento, debatendo sobre emissões de carbono e desmatamento na Amazônia.

Qual será a ação governamental?

Ao ser questionada sobre ações palpáveis do governo Lula para combater os problemas climáticos apontados pela ministra, ela afirma que o “diálogo” é a melhor ação efetiva que o governo está tomando.

Autoridade Climática

O foco da ministra é falar o tempo todo sobre uma implementação de plano de prevenção, sem, entretanto, explicar o que seria e como faria. Ao mesmo tempo, Marina abre uma discussão — sem que ninguém a pergunte uma vírgula sobre o assunto — sobre a criação de algum monstrengo burocrático chamado “Autoridade Climática”, mas depois, como quem morde e assopra, a ministra afirma que ainda é cedo e “vamos deixar isso em aberto”.

 

Matéria da Agência Brasil publicada no dia 10 de maio:

Novo normal do clima

Ao ser questionada sobre a necessidade de se reconstruir a infraestrutura pública do Rio Grande do Sul, Marina Silva afirma que isso deverá ser conduzido de acordo com o que ela chama de "novo normal" do clima, obviamente fazendo referência as anormalidades sanitaristas impostas durante a pandemia de Covid-19, que foram eufemizadas como “novo normal”. Marina afirma, por exemplo que bairros inteiros serão reavaliados pelo governo e talvez não sejam reconstruídos da mesma maneira ou no mesmo lugar. A Ministra só parece se esquecer que não está falando de bichos e reservas ecológicas, mas de gente, pessoas supostamente livres e suas propriedades privadas.

Plano Clima do Governo Federal

Segundo Ministra, a administração de Lula está focada na elaboração de um “Plano Clima” que incluirá ações para impor adaptação a todos os setores da sociedade. Apesar de citar que o plano também visa preparar com sistemas de alerta e infraestrutura de apoio os municípios suscetíveis a eventos climáticos extremos, o Plano Clima visa também criar mais burocracia ambiental e mais interferência em propriedades privadas, o que fatalmente acaba em mais dificuldades para o pequeno e médio produtor.

 

Postagens e vídeos em redes sociais:

Causas das chuvas, mudanças climáticas e Bolsonaro

Marina Silva coloca-se como uma espécie de Cassandra, a profetiza da Ilíada que tinha o dom de ver o futuro e a maldição de, apesar de suas ações, não o poder evitar. A ministra de Lula atribui as fortes chuvas no Rio Grande do Sul ao excesso de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera que estaria resultando em mudanças climáticas, mudanças essas que ele nos tem alertado há décadas, mas a humanidade não tem agido conforme necessário.  Marina obviamente não poderia deixar de lado o expediente oficial do governo petista: colocar a culpa no ex-presidente Jair Bolsonaro. A alegação é que houve um “apagão” em políticas climáticas durante os quatro anos de seu mandato. Ainda em clima de palanque político sobre os cadáveres das enchentes, Marina disse que essa seria uma excelente oportunidade para aproveitar a “lição” aprendida com a tragédia para barrar no Congresso a discussão da possibilidade da redução da reserva legal obrigatória na Amazônia.

 

Contraponto: Entrevista com André Pirajá

Marina Silva claramente tem muita dificuldade em concatenar todos os argumentos que levanta e, principalmente, uma incapacidade notória de esclarecer em seu discurso qual é a relação de causa efeito que prove cientificamente suas alegações, que ficam sempre no campo das crenças políticas, silogismos e “senso comum”. Para oferecermos um contraponto, André Pirajá, que é advogado especialista em Direito Ambiental, conversou com esse colunista acerca das falas da ministra Marina Silva.

BSM – O que você pode falar sobre essa pauta no congresso da redução da reserva legal na Amazônia?
André Pirajá – A discussão no Congresso sobre a possibilidade de redução da reserva legal da Amazônia é, por si só, uma vitória, especialmente em um contexto em que há muita desinformação sobre desmatamento, CO₂ e aquecimento global. Do ponto de vista prático, a efetividade da legislação enfrenta um entrave significativo: muitas restrições à comercialização de produtos da Amazônia decorrem de medidas comerciais, não legislativas. Atualmente, a permissão para desmatar 20% de uma propriedade na Amazônia não garante que os produtos dessa área, como soja ou gado bovino, possam ser comercializados internacionalmente. Essa limitação comercial independe das leis ambientais e está relacionada às preocupações globais sobre mudanças climáticas e a preservação da floresta.


BSM – Há evidências de que essa relação “Amazônia-redução da reserva legal” realmente possa impactar o clima no país ou mesmo no mundo inteiro?
André Pirajá – Considerando os dez países com maior quantidade de floresta no mundo, que somam aproximadamente 28 milhões de km² de floresta, com a Rússia e o Canadá à frente, há um argumento de que essas florestas são essenciais para o equilíbrio planetário. Se aumentarmos a área de desmatamento permitida na Amazônia de 20% para 50%, isso representaria um incremento de 30% nas áreas passíveis de desmatamento, equivalendo a cerca de 900 mil km², ou 3% das florestas globais. A ideia de que 3% de desmatamento global causaria um cataclisma é altamente contestável.  Comparativamente, seria como afirmar que uma redução de 3% na eficácia de um anticoncepcional resultaria em todas as mulheres engravidando na primeira relação sexual. Assim, a relação entre desmatamento e eventos climáticos extremos é vista como especulativa. O meteorologista Luiz Carlos Molion, por exemplo, argumenta que “não chove na Amazônia porque há floresta densa; há floresta densa na Amazônia porque chove”.

 

BSM – Qual a verdadeira relação entre o CO2 produzido pelo agronegócio e as chuvas no Rio Grande do Sul?
André Pirajá – A relação entre CO₂ produzido pela agropecuária e as chuvas no Rio Grande do Sul é frequentemente vinculada ao desmatamento. No entanto, estudos indicam que florestas maduras não geram créditos de carbono, pois absorvem e expelem CO₂ em equilíbrio durante a fotossíntese. Plantas em fase de crescimento, por outro lado, apresentam um saldo positivo de oxigênio. A floresta amazônica, sendo majoritariamente madura, não contribui significativamente para a redução de CO₂. Além disso, áreas alagadas da Amazônia geram metano, um gás de efeito estufa. Portanto, associar desmatamento a catástrofes climáticas é considerado por alguns como uma narrativa que sustenta medidas restritivas, como o bloqueio de produtos ou a limitação da produção de alimentos no Brasil. Essas medidas impedem que o país realize seu potencial como uma potência agrícola, lembrando que controlar a produção de alimentos equivale a controlar a população de um país.

— Brás Oscar é escritor, jornalista e apresentador do BSM. Autor dos livros O Mínimo sobre a Queda da Europa e O Mínimo sobre Café.

 


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