A DIREITA DE ESQUERDA

Mauricio do Vôlei propõe projeto que promove ideologia progressista em lei de licitações

Silvio Grimaldo · 10 de Maio de 2024 às 18:31 ·

O deputado, que já foi vítima da cultura do cancelamento, é autor de projeto que promove o identitarismo politicamente correto e agenda 2030 nas empresas. 

Pelo jeito, o senador Jorge Seif não foi o único parlamentar que se diz conservador a beber demais nessa semana. Em uma jogada inesperada, mas não surpreendente, o ex-jogador de vôlei Mauricio de Souza propôs um projeto de lei que adiciona critérios de ESG (Environmental, Social, and Governance) como fator de desempate em licitações públicas. A proposta, que visa modificar a nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos (Lei 14.133 de 2021), sugere que as certificações ESG podem ser um novo padrão para avaliar empresas que desejam contratar com o estado.

O Projeto de Lei nº 1657/2024 de Mauricio do Vôlei inclui no artigo 60 da Lei de Licitações um novo inciso que privilegia empresas com selo ou certificado ESG emitido por instituições reconhecidas. Esta medida procura alinhar as práticas governamentais com padrões de sustentabilidade, responsabilidade social e governança advogadas pela esquerda progressista e por globalistas mundão a fora.

O deputado argumenta que a certificação ESG demonstra o compromisso das empresas com práticas empresariais sustentáveis e éticas, apesar de não deixar claro o significado dessa lenga-lenga, promovendo um ambiente de negócios justo e equilibrado. Esta mudança visa não apenas garantir a eficiência econômica mas também considerar o impacto ambiental e social das empresas envolvidas na licitação. A proposta é o puro suco do "wokeismo capitalista", ou a cultura da lacração amarrando as mãos dos empresários.

O movimento conservador frequentemente critica o ESG como parte de uma agenda progressista que prioriza valores ideológicos sobre a meritocracia e eficiência econômica pura. A inclusão do selo ESG em licitações públicas força a adoção de critérios que transcendem o escopo tradicional de avaliação baseada puramente em custo e eficiência, introduzindo valores ideológicos, como a agenda de gênero, ambientalismo radical e até mesmo políticas de facilitação do aborto, como critério decisivo para prestação de serviços ao Estado.

O projeto também é justificado pelo alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, que é o nome por extenso da Agenda 2030. O deputado, quase inacreditavelmente, argumenta que:

a integração do selo ESG nos critérios de licitação pública é um passo significativo para que o Brasil cumpra seus compromissos internacionais relacionados ao desenvolvimento sustentável, tais como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas. Essa abordagem não apenas melhora a qualidade das intervenções públicas, como também fortalece a imagem do país no cenário internacional como um líder em práticas de sustentabilidade.

Lamentável. 

Mas o que é ESG, afinal?

O ESG é um sistema de avaliação que pontua empresas com base em critérios ambientais, sociais e de governança. Embora, à primeira vista, esses critérios possam parecer belos e morais, na prática eles promovem uma agenda política esquerdista, distanciando as corporações de seu objetivo principal: a lucratividade e a eficiência.O ESG é o análogo beach-tennis ocidental e capitalista do sistema de crédito social da China comunista, pois as empresas que não aderir aos padrões estabelecidos de responsabilidade social e ambiental podem sofrer punições severas no mercado. Ou ser impedidas de concorrer em licitações públicas, como deseja o projeto do ex-jogador de volei.

No contexto americano, críticos como Lucas Miles, em um episódio da EpochTV, intitulado "Cristãos e ESG: O Que Você Precisa Saber", descreve o ESG como uma ferramenta que permite a esquerda mais radical contornar o processo democrático, usando corporações para impor controles sociais que limitam liberdades individuais e promovem uma agenda ideológica. Segundo Miles, isso desloca o foco das empresas da obtenção de lucro para a manutenção de pontuações de ESG favoráveis, mesmo que isso prejudique a rentabilidade. 

Além de potencialmente reduzir a competitividade de empresas menores que não conseguem cumprir com os onerosos requisitos do ESG, esse sistema também coage empresas a adotarem posições políticas alinhadas com valores progressistas. Isso inclui práticas de contratação baseadas em características raciais ou identitárias (cota mínima para travestis, por exemplo), em detrimento da qualificação profissional, configurando uma espécie de censura econômica às empresas que preferem manter um foco tradicional em qualidade e lucro.

Raízes Intelectuais da cultura da lacração

Contrariamente à percepção de que o wokeismo, ou histeria identitária da esquerda radical americana que influencia linhas como o PSOL no Brasil, é um fenômeno recente ou efêmero, ele possui um pedigree intelectual longo e claramente identificável. A cultura da lacração é a filha pop, inculta e semi-analfabeta da Teoria Crítica, que floresceu no meio do século XX em círculos acadêmicos franceses e alemães, com figuras influentes como Max Horkheimer, Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Jacques Derrida e Michel Foucault. Durante as décadas de 1960 e 1970, essa teoria migrou para os EUA, onde foi incubada até emergir de forma robusta na cultura popular no verão de 2020, em toda aquelas manifestações do Black Lives Matters e no quebra-quebra de vidraças e incêndio de cidades que se seguiram.

Filósofos como René Descartes e Immanuel Kant contribuíram significativamente para a fundação da modernidade ao redefinir a relação entre sujeito e objeto, centralizando a experiência do "eu" na constituição da realidade. Descartes, com seu "Cogito, ergo sum", e Kant, com suas categorias a priori, estabeleceram o interior, ou a consciência, como o árbitro final da verdade e da moralidade. Esta ênfase no interior sobre o exterior, na subjetividade sobre a objetividade,  foi radicalizada por teóricos pós-modernos, que argumentam que a identidade é uma construção pessoal mais do que uma determinação biológica ou cultural objetiva. E aí está a genealogia da ideologia de gênero, por exemplo, que nega a realidade objetiva da determinação biológica dos sexos e a substitui por um etéreo, fugaz e transitório sentimento de identificação do eu com alguma orientação sexual estabelecida ou totalmente nova. 

O wokeismo, o bastardinho dessa longa linhagem de erros filosóficos, adota uma postura de profundo ceticismo em relação às reivindicações de verdades objetivas. Inspirado no perspectivismo de Nietzsche, os teóricos críticos argumentam que não captamos as coisas como elas realmente são, mas apenas nossas perspectivas limitadas delas. Derrida, particularmente, desconstroi a noção de que a linguagem pode nos conectar fielmente com a realidade, propondo que todos os textos e discursos estão imersos em jogos de poder e dominação. Ou seja, qualquer tentativa de definição de objeto, qualquer tentativa de dar nomes às coisas, é automaticamente entendida como uma imposição pela força - não pela razão - de uma visão de mundo, geralmente patriarcal, branca, ocidental e cristã, sobre os oprimidos da vez, as mulheres, os homossexuais, os negros, os adoradores de Ba´al e, sobretudo, os ricos estudantes universitários.

Em resumo, a lacração é uma adaptação da perspectiva marxista sobre conflitos de classe para incluir uma variedade de dinâmicas de opressão, como raça, gênero e colonialismo. Essa visão antagonista da sociedade é um ponto de convergência entre a teoria crítica da  Escola de Frankfurt e o wokeismo mobral de estudantes idiotas, segundo a qual todas as relações sociais são frequentemente vistas através do prisma de opressores e oprimidos.

Maurício do Volei foi vítima da cultura de cancelamento ESG, mas tem memória curta

Mas vejam só como o mundo dá voltas. Quando o deputado Maurício do Volei foi eleito, ele tinha apenas um - e até essa semana só tinha esse único - capital político: ter sido vítima de cancelamento pela esquerda radical. 

Maurício encerrou sua carreira no vôlei em 2021, após ter seu contrato rescindido pelo Minas. À época, o jogador publicou em suas redes sociais opiniões consideradas ofensivas e homofóbicas pela tigrada esquerdista que agora ele quer promover, indiretamente, com esse projeto inconsequente.

O ex-atleta criticou publicamente a DC Comics quando anunciaram que o novo Superman, filho de Clark Kent, se identificaria como bissexual nos quadrinhos. A DC Comics estava fazendo nada mais nada menos do que se adequar às exigências de certificação ESG que o deputado agora defende. Ele expressou seu descontentamento em uma postagem no Instagram em 12 de outubro de 2021, declarando: "Hoje em dia o certo é errado, e o errado é certo... Se tem que escolher um lado, eu fico com o que eu considero correto! Mantenho minhas crenças, valores e ideias. 'Ah, é só um desenho, não é nada demais'. Continue pensando assim e veja onde vamos parar".

A conduta do jogador desagradou os principais patrocinadores do Minas, especialmente devido ao volume de comentários em suas páginas online exigindo uma postura sobre o incidente. Submetidos às melhores práticas de ESG, no dia 26 de outubro daquele ano, a Fiat emitiu uma nota criticando a atitude do jogador e solicitando a "adoção das medidas cabíveis e necessárias no menor intervalo de tempo possível". A Gerdau, em seguida, também apoiou publicamente essa demanda. Na mesma data, Maurício Souza foi afastado do Minas. 

Histórico de erros e projeto arquivado

Não é a primeira vez que Maurício trai a confiança de seus eleitores e se alinha a pautas francamente esquerdistas. No mês passado, o deputado votou a favor da volta do seguro obrigatório para indenizar vitimas de acidentes com veículos, o famigerado DPVAT. Pego no pulo, em pleno apoio ao aumento da carga tributária proposta pelo regime Lula, o ex-jogador veio às redes sociais com a desculpa de que se confundiu na hora de votar. Apesar de ter ajudado Haddad colocar no fiofó do povo, Maurício do Vôlei pediu perdão:

“Vocês podem me julgar por meu erro. Me confundi naquele momento. Mas não pode me condenar pela minha posição, porque eu sou contra qualquer tipo de imposto”

“Eu peço desculpas. Vocês têm todo o direito de me crucificar pelo meu erro, mas peguem a minha votação lá atrás e vejam como foi a minha postura, como está sendo minha postura aqui no Congresso Nacional”.

O projeto woke que altera a lei de licitações foi protocolado na última quarta-feira, mas hoje foi arquivado pela Mesa Diretora da Câmara a pedido do próprio deputado. No requerimento de arquivamento não há justificativa para o pedido. Em seu instagram, o deputado publicou um story informando o engavetamento da proposta, mas nada mais disse a respeito.

Não sabemos o que levou o deputado a propor um projeto que parece ter sido elaborado pelo próprio George Soros, nem por qual razão ele pediu o arquivamento. Talvez tenha sido alertado por algum colega que não estava dormindo. Não sabemos, mas dado o histórico de desculpas esfarrapadas do parlamentar, não é de duvidar que ele venha dizer que escreveu o projeto por engano, que se confundiu. 

E terá gente para acreditar.

 


"Por apenas R$ 12/mês você acessa o conteúdo exclusivo do Brasil Sem Medo e financia o jornalismo sério, independente e alinhado com os seus valores. Torne-se membro assinante agora mesmo!"



ARTIGOS RELACIONADOS