O BOMBEIRO SURFISTA

Moisés se abre para a onda vermelha

Fábio Gonçalves · 12 de Março de 2020 às 13:25 ·
A briga no PSL nacional, que culminou na saída de Bolsonaro da legenda e na posterior disputa entre bivaristas e bolsonaristas em Brasília, tem se refletido também em alguns estados. Um caso exemplar é o de Santa Catarina, do governador Carlos Moisés da Silva

Carlos Moisés da Silva, até os idos de 2018, era uma nulidade no cenário político de Santa Catarina. As pesquisas de primeiro turno para governador do Estado nem sequer consideravam seu nome ou, se o mencionavam, era sempre com chances pífias de vencer o pleito. 

No entanto, à semelhança de João Doria, Wilson Witzel e Romeu Zema, na reta final da campanha, às portas da primeira rodada de votação, Moisés vestiu o verde e amarelo do Capitão, fez arminha, subiu o tom, e, surpreendentemente, chegou ao segundo turno, na segunda colocação, anotando 29,72% contra os 31,12% de Gelson Merísio (PSD).

Desta feita, apresentando-se como o homem de Bolsonaro no estado sulista, o Comandante Moisés simplesmente decolou no segundo turno e venceu o então favorito Gelson com retumbantes 71,09%.

No dia da votação, ele vestia uma réplica da camisa que Jair usava no fatídico 6  de setembro, dia da facada de Adélio Bispo.

Entretanto, apelando ao mesmo modus operandi dos mandatários do Rio de Janeiro e de São Paulo, tão logo entrou no gabinete governamental, Moisés tratou de mudar o discurso, trocar as cores, e se distanciar o máximo possível da pecha de bolsonarista.

Certa feita, ele disparou: “Arminha com a mão é cretinice”. Talvez se esquecendo que foi justamente fazendo esse gesto que ele subiu na vida. Mais a mais, chamou os apoiadores do Bolsonaro nas redes sociais de “extremistas”, comparando-os à esquerda radical. 

Além de uma série de declarações públicas nesta mesma linha, Moisés fez outros tantos movimentos políticos que iam ao encontro do que estava na agenda que elegeu Bolsonaro - e, por corolário, que elegeu a ele próprio. 

Moisés entabulou um diálogo condescendente com a extrema-esquerda, acolhendo demandas do MST, PSOL e de grupos identitários, e, talvez ainda pior, abriu-se docemente aos clamores dos globalista, acatando no seu plano de governo a malfazeja Agenda 2030, da ONU, que, dentre outras coisas, pretende avançar no mundo inteiro pautas como a do aborto e da ideologia de gênero.

Esta situação ensejou, logo de cara, um embate entre o governador e deputados pesselistas que se mantiveram fiéis à plataforma conservadora que os elegeu. Dentre os quais, cita-se: Ana Campagnolo, Felipe Estevão, Sargento Lima e Jessé Lopes.

A perseguição

É este o pano de fundo do último capítulo da crise do PSL-SC. Depois das rupturas no diretório nacional, o bombeiro Moisés largou de vez o Capitão que ele usara como escada, alinhou-se com Luciano Bivar, presidente nacional da sigla e rival declarado de Bolsonaro, e, repetindo o estratagema de Joice Hasselmann e companhia, passou a perseguir a ala bolsonarista dentro da legenda, acusando-os de infidelidade partidária, e tentando, com manobras jurídicos-inquisitoriais, atravancar suas atividades no legislativo catarinense.

Neste sentido, Moisés, articulando com funcionários comissionados da Assembléia do estado, conseguiu que fossem protocoladas denúncias contra estes seus declarados adversários políticos, alegando que o grupo bolsonarista, fazendo-lhe acirrado contraponto, estaria prejudicando sua administração. 

Este processo de fritura culminou, na noite desta quarta-feira (11), numa decisão unânime do Conselho de Ética do partido em Santa Catarina que suspendeu as atividades parlamentares dos quatro opositores de Moisés.

Sendo assim, caso a punição se confirme, os deputados não poderão, por exemplo, participar das comissões e nem exercer funções de liderança na assembleia. Exatamente como se fez com os bolsonaristas do Congresso Nacional. 

Fontes da Assembleia asseguram que os parlamentares recorrerão em todas as instâncias para que a suspensão seja anulada, e, no limite, entrarão com processo para desfiliação por justa causa já que o desligamento injustificado, de acordo com a Lei Eleitoral, causa perda do mandato.

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