O Céu e a Terra diante do milagre

Lucas de Oliveira Fófano · 19 de Junho de 2024 às 15:11 ·

Lucas Fófano conta a história de um milagre ocorrido recentemente no interior do Paraná: a vida breve da pequena Beatriz e a cura de sua mãe

Algumas vezes pensamos que um milagre é a suspensão das leis naturais, uma intervenção direta de Deus na ordem das coisas. Um ponto luminoso num caso escuro que muda toda a ordem da criação. É aqui que se encaixam as curas, os casos de quase-morte e os fenômenos tão surpreendentes que se manifestam na vida dos santos. Mas e se o milagre não for algo tão supranatural assim? E se for apenas de uma ordem comum de coisas que ainda não conhecemos? Afinal, como não chamar de milagre o surgimento da vida? Ou, como não chamar de milagre a conversa de uma criança com Deus?

Seja como for, um fato surpreendente é que a criação louva o milagre. Ela o confirma. Ela se dobra diante deste fato tão extraordinário e tão comum. E é aqui que eu quero deixar registrada uma memória, tão breve e tão fresca que pode se perder a qualquer momento: houve um milagre, e eu vi a criação se dobrando diante dele.

O mistério da morte é algo de fato obscuro. Tão obscuro para nós que foi preciso que o próprio Deus fosse até aquele lugar e de lá voltasse para nos falar sobre o que há do outro lado. Não havia meios de pensarmos sobre algo tão insondável e então Deus nos deu uma revelação. Mas, e o mistério da vida? É este o mistério que mais me impressiona.

É papel do escritor passar adiante certas impressões. Existe algo que incomoda para sair e ir para o papel — e esse algo tem vida própria, sempre tem vida própria. A impressão que tive essa manhã foi a de ver a criação se dobrando ante o milagre da vida. Dezenas de rostos em lágrimas enquanto uma carreata em comemoração a uma vitória acontecia numa pequena cidade do interior, dessas em que as pessoas ainda rezam. Sim, claro, eu sei que nem todos são de fato devotos, ou mesmo fiéis, mas é este o fato mais impressionante. Há algo no interior do ser humano (talvez o coração?) que não o deixa se tornar uma pedra por completo. É esse algo que se dobra quando depara com um milagre.

Mas eu, como uma criança fazendo perguntas que são típicas de crianças e, por isso, muito profundas, me questiono: — Onde esse milagre começou? Quem foi que falou com Deus?

E é então que uma cena vem à minha mente e eu vejo.

Há um tumulto nos portões do Céu. Um tumulto tão grande que São Pedro resolve falar com Jesus.

— Senhor, há um tumulto lá fora. E, como sempre, Minha Senhora está lá, com outras duas mães. Gianna correu contar para A Rainha que alguém estava chegando.

— Ah! Sim! Hoje é dia 29. Ela chegou!

— Senhor?

— Venha, Pedro, vamos até lá recebê-la.

E então eles veem. Há uma gigantesca multidão de anjos da guarda. Tantos que quase não é possível acreditar — eles quase não transportam orações hoje em dia. Mas não é o caso dessa vez. Eles estão reunidos em volta de uma pequena luz que se dirige aos braços de Nossa Senhora. Santa Gianna está ao lado. Ela havia sido avisada. A multidão de anjos segue a pequena que aos poucos vai se revelando. É uma criança, de cabelos claros, um sorriso leve no rosto. Ela parece estar familiarizada com aquelas duas mães e pula nos braços da Augusta. Tudo pára. A Santa Mãe de Deus está chorando e olha para seu Filho.

— Meu filho! Meu filho! Eis aqui uma filha Tua.

— Senhor... — diz a pequena criança olhando para cima, como um filho que se dirige ao mais bondoso dos pais. — Eu quero pedir uma coisa.

— Minha filha! Peça o que quiser — respondeu o Senhor olhando aquele pequeno sorriso. Aquilo foi algo que lhe aqueceu ainda mais o coração. Ele já sabia. Como tudo o que acontece conosco, Ele sabia e esperava apenas o pedido.

— É a mamãe, Senhor. Eu sei que não pude ficar muito tempo junto dela. Sei que isso é o que ela mais deseja neste momento mas eu precisava vir até aqui, Senhor, e dizer que ainda não. Ainda não é o momento de mamãe. Ela ainda precisa cuidar de muita coisa na Terra. Eu deixei com ela três irmãs e o papai. Ah!, o papai. Eu tenho um pai e uma mãe tão incríveis que eu não vejo a hora de encontrá-los, mas ela ainda tem muito a fazer, Senhor. Por favor, cure a mamãezinha, Senhor! Eu sei que o Senhor a ama! Eu sei que o Senhor já se manifestou na vida dela muitas e muitas vezes, eu conheço aqueles sinais que se fizeram presentes na vida dela. Eu os vejo em suas mãos, Senhor. Por favor, cuida da mamãe. Por favor...

Em meio a lágrimas da mais pura alegria, Jesus pega a pequena Beatriz nos braços, olha no fundo dos olhos dela e diz:

— Por isso te chamei aqui, minha pequena! Olhe para sua mãezinha. Ela está curada. Não há oração que não seja atendida para as mães de muitos filhos. Olhe para todos esses anjos. São os anjos da guarda de toda uma cidade. Uma cidade que vibra ante um milagre. Uma cidade que pode ganhar vida nova, agora! — e então Jesus olha para um pequeno anjo, é o anjo de Beatriz:

— Meu filho, venha cá. Beatriz, há algo que queira contar para sua família?

— Sim, Senhor! Diga à mamãe e papai que eu conheci Santa Gianna! Eu conheci A Senhora do Céu e ela é tão linda como uma rainha. Diga a todos eles que eu conheci o Amor e que esperem pelo momento em que nos encontraremos, pois vale a pena! Diga para mamãe que eu a Amo e que meu papai é o melhor pai de todos! Diga para as minhas irmãs que eu estou aqui, olhando por todos eles! Diga que este é o melhor lugar que existe e que um dia nós nos encontraremos!

Lucas Fófano é professor de filosofia, editor literário e colaborador do BSM.

 


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