Será o triste fim de um presidente incapaz?
Braulia Ribeiro analisa os próximos passos na corrida presidencial após a desastrosa performance de Joe Biden no debate com Trump. Democratas e grande mídia se mobilizam para a substituição de Biden. São tempos terríveis para o mundo livre
Os jornais americanos demonstraram o estado de espírito que se seguiu ao debate presidencial de dois dias atrás. No New York Times, as notícias e editoriais revelavam o medo o desespero que se instalou entre establishment democrata ao perceber que a senilidade do presidente em exercício já não pode mais ser escondida:
“Participação cambaleante de Biden espalha ansiedade no partido.”
“Lapsos do presidente diante do microfone são ensurdecedores.”
“Neste debate pudemos ouvir Biden falar, e assim seus problemas começaram.”
“Um Biden temeroso e titubeante; os democratas encaram um futuro incerto.”
O NYT como sempre descreve o que pensam as elites que sustentam ideologicamente o governo Biden, e o pânico é geral. O governo, que sempre pôde contar com a conivência explícita dos jornalistas tanto no prelo quanto na TV, sabe que está sendo abandonado. Um dos tradicionais defensores de Biden, Joe Scarborough, uma espécie de Miriam Leitão americana com um programa matinal Morning Joe, o favorito de Joe Biden, que arquitetava defesas elaboradoras para as gafes, tombos e nítida incoerência do presidente, reconheceu que já não dá mais pra esconder o óbvio. A campanha perdeu sua âncora, está à deriva no mar hostil do partido.
O pânico democrata
A revista eletrônica de esquerda “Politico” amanheceu na sexta-feira com a seguinte chamada principal:
“O movimento para convencer Biden a não concorrer é real. Alarmados pela performance de Biden, alguns dos principais líderes democratas, do líder do senado Chuck Schumer e do líder na Câmara Hakim Jeffries à própria primeira-dama, estão induzindo o presidente a repensar sua campanha.”
A jornalista Michelle Wallace, da rede MSNBC, feroz aliada dos democratas e defensora constante da “acuidade mental” de Biden, declarou que existe um grupo grande da liderança do partido “conversando” sobre a substituição do presidente. Os nomes possíveis não são muitos, nem parecem ter tração suficiente para à essa altura do campeonato para mudar o cenário que se consolida. O nome mais cotado é o de Michelle Obama, que os democratas consideram ser um tiro certo, Gavin Newson, o governador que conduziu a Califórnia ao desastre, a mal-amada Hillary Clinton, o socialista radical e pastor Raphael Warnock e o velho comunista amargo Bernie Sanders. Por incrível que pareça, todos eles estão à esquerda de Biden. Sinal que o partido não percebeu que a rejeição a Biden não passa apenas por sua óbvia incapacidade, mas pelas politicas públicas desastrosas que ele implementou, que também seriam apoiadas por esses outros nomes. Ou seja: querem substituir seis por meia dúzia.
Só que a substituição, se acontecer, não será fácil. Biden não quer ceder o posto. Com a obstinação que só um velho senil é capaz, ele insiste que venceu o debate ontem e que tem condições de vencer Trump mais uma vez. A opção dos democratas é declará-lo incompetente usando a emenda 25 da constituição. De qualquer maneira, seja voluntária a substituição ou não, os democratas sabem que com isso assinariam uma declaração de fracasso e vergonha da presidência de número 47 — que não manchará apenas Biden mas o partido como um todo, como foi o caso do incapaz Jimmy Carter. Apesar do risco, a necessidade de substituir Biden e possivelmente Kamala Harris é real. Mas não apenas isso. Na quinta-feira à noite, quem testemunhou ao estado cognitivo deplorável do atual presidente da maior potência econômica e militar do mundo livre temeu pela paz mundial. Não é aceitável que os botões que acionam o lançamento de ogivas nucleares de alta potência estejam ao alcance de um homem que constantemente não se lembra de onde está. São tempos terríveis para o mundo livre e para a América.
O debate
Biden chega ao palco com passos titubeantes, acenando para os dois moderadores da CNN, Jake Tapper e Dana Bash, seus amigos de longa data e apoiadores ferrenhos durante sua presidência. Trump entra sem acenar para ninguém, olhando para as câmeras com cara de poucos amigos. Ele sabe que estará jogando numa arena hostil. As regras do jogo foram todas estabelecidas pela equipe de Biden. Trump aceitou a todas suas imposições, sem rejeitar nenhuma:
— Não haveria plateia presente. (Todos sabem que o ex-presidente/comediante standup se sai muito bem com uma plateia para reagir às suas piadas).
— Os microfones seriam desligados depois de dois minutos para o tempo de resposta e um minuto se houvesse direito a réplica.
— As perguntas seriam formuladas pelos moderadores, os dois claramente simpáticos à Biden.
Biden escolheu a rede, e possivelmente as perguntas, todas claramente formuladas para o público democrata. Ele é amigo dos moderadores e goza do favor da CNN e de toda a mídia jornalística e televisiva, com a exceção da Fox News e de alguns jornalistas independentes. Biden se trancou em Camp David, a casa de campo da presidência, para se preparar para o confronto. Teve direito até a um hangar completamente transformado para simular o palco em que ele iria enfrentar seu oponente.
Trump continuou sua campanha como sempre. Fez comícios políticos em vários estados para recuperar as longas seis semanas em que foi obrigado a se sentar na sala gelada do tribunal de Nova York que o condenou no dia 30 de maio por 34 violações criminais, sem citar o crime, e que no dia 11 de julho vai sentenciá-lo. No dia 23, esteve fazendo um comício na cidade de Filadélfia em que esta colunista esteve presente. O homem é mesmo uma celebridade política, extremamente carismático e vivaz. Não há como dormir, se entediar e nem se irar com o discurso de Trump. Não é um discurso linear, nem tem profundidade filosófica. O ex-presidente compara com termos simples a sua presidência com a do adversário, entremeando estatísticas e promessas com “causos” divertidos. Uma pessoa com educação elementar é capaz de entendê-lo. Apesar de bilionário, e de ter sido educado na Ivy League — é formado em economia na Universidade da Pensilvânia —, ele fala para o povão. E as pesquisas de intenção de voto indicam que o povão, negros, latinos e a classe operária, aqui chamados de “colarinho azul” numa referência aos uniformes das fábricas, o entende bem e cada vez mais se convence de que ele é a melhor alternativa.
O debate começa e também a sensação de desconforto em quem o acompanha. Enquanto Trump responde com a desenvoltura de sempre, Biden titubeia, arrasta a língua, para no ar, alternando entre olhar perdido no horizonte ou encarar o adversário com a face congelada num rictus que denota medo ou uma clara repugnância ao oponente.
Trump mantém a expressão de bandido procurado da sua “ficha criminal” tirada na Geórgia. Os lábios virados pra baixo, os olhos encarando os moderadores e o adversário em franco desafio. Em vários momentos Trump se aproveitou das respostas destrambelhadas do velho Biden para refutá-lo e expor a incapacidade do oponente. Mas, na maioria das vezes, foi o próprio presidente que expôs sua imensidade dificuldade de articular ideias coerentes, de coadunar de maneira linear palavras que transmitem algum significado ou mesmo de dizer a verdade. A maioria das afirmações de Biden sobre sua presidência não passam por um fact check simples. Ele diz que recebeu o governo com 9% de inflação. Errado. A inflação era de 1,4%, uma das menores que o país já experimentou, apesar da pandemia. Ele disse que diminuiu o preço da insulina para idosos. Falso. Trump já havia feito isso em seu mandato. Biden cancelou o mandato que baixava os impostos e reduzia o preço do medicamento. O preço subiu, um ano depois Biden impôs um teto para o preço da insulina para idosos. Ou seja, ele só reeditou a iniciativa de Trump e assumiu o crédito. E assim vai. Mas é claro que a mídia esquerdista abjetamente subserviente aos interesses dos democratas não vai reportar da mesma maneira. Trump usa hipérboles constantemente em seu discurso — e a esquerda classifica esse recurso retórico como mentiras. Assim, segundo a mídia democrata, na conta de “mentiras” do debate, Trump venceu. Só que não. A inflação fora de controle, a invasão de ilegais que se aproveitam da crassa incompetência da administração na fronteira, a criminalidade que aumenta nas cidades grandes — tudo isso só é “mentira” para quem tem salários de milhões de dólares e paga segurança privada. Esses jornalistas da bolha acham que Trump “exagera”. A verdade é que, apesar do efeito teatral que imprime às suas declarações, só Trump reconhece o desastre econômico e cultural que assola o país. E o povo está cada vez mais consciente disso. O outro candidato não entende essa realidade porque está andando robotizado pela estrada de tijolos amarelos na direção do Criador.
O pânico republicano
A esmagadora maioria dos comentaristas políticos da direita americana teve dois dias de festa. Trump surpreendeu por sua habilidade de se conter. Ben Shapiro e a turma do Daily Wire, hoje talvez a mídia direitista mais influente da América, não se continham de alegria em seus programas. Segundo Shapiro, Trump estava sob controle e soube explorar muito bem a fraqueza de Biden, mas sem envergonhá-lo, nem passar a ideia de descontrole emocional, o que em outros debates nas campanhas anteriores foi um problema. Mas é claro que a principal revelação da noite foi a senilidade do comandante-em-chefe das forças militares americanas.
A jornalista Megyn Kelly, centrista que se declara independente (nos EUA ao se registrar como eleitor você também tem que declarar a qual partido pertence ou se é um eleitor sem partido), tem sido defensora ferrenha de Trump nos últimos meses. Apesar de ter sido ela mesma vítima das grosserias de Trump durante a campanha presidencial de 2016,[1] a jornalista não guardou rancor e, por ser advogada, com profundo conhecimento das leis e das cortes, é uma das mais influentes vozes narrando as múltiplas tentativas do governo Biden de desmantelar o sistema de justiça, principalmente de seu uso político contra o candidato republicano. Ela descreveu perfeitamente a sensação que eu mesma tive ao assistir ao debate:
“Na minha opinião a campanha de Joe Biden terminou hoje, caso ele esteja consciente disso ou não. Eu acredito que haverá inúmeras reuniões entre os democratas hoje à noite para discutir a sua substituição na chapa democrata. Eles têm que fazer isso... Foi um desastre absoluto. Foi desconfortável para quem estava assistindo. Eu me sentei com minha família e amigos e pelos primeiros 25 minutos, tapávamos o rosto, nos sentindo mal em ver Biden tão distante, frágil, parecendo incapaz de compreender o que se passava. Pensamos que talvez ele não seria capaz de chegar ao fim do debate programado para durar 90 minutos.”[2]
Os republicanos já discutem o problema da senilidade do presidente há anos. Desde a posse de Biden, o comentarista conservador Dinesh d’Souza se refere ao governo como A Junta, por presumir que um grupo de assessores especiais junto com a primeira-dama tomam as principais decisões, e não o presidente. Mas durante o debate o fiasco foi assistido pelo mundo inteiro. Steve Bannon coordenador da campanha de Trump em 2016, rotulado de conspiracionista e perseguido pelas cortes de Biden, é um homem de um faro político certeiro. Em uma entrevista na sexta-feira, ele afirmou que estamos vivendo dias de pré-guerra. Ele chama de período cinético — ou seja de movimento: estamos vendo as armadas e os navios de guerra da Rússia e China se movimentarem assumindo posições estratégicas. Eles sabem que a janela de tolerância e incapacidade que se abriu com o governo de Biden pode se fechar com uma volta de Trump ao poder. O debate deixou claro ao mundo o frágil estado de Biden. A América está vulnerável. Por essas e outras os republicanos também estão em pleno movimento para articular uma investigação oficial sobre o acobertamento da condição de saúde do presidente e forçar o gabinete a usar a emenda 25 para substituí-lo. O problema, no entanto, não é tão simples assim. Na ausência de Biden, assume Kamala. E nem os democratas nem os republicanos confiam em sua capacidade mental.
É tempo de dobrar os joelhos e orar mais do que nunca pela paz mundial, pelo menos até o dia 20 de janeiro de 2025.
[1] Trump se irritou com um pergunta espinhosa feita por Kelly que na época trabalhava para a Fox, durante um dos debates para as primárias- e comentou depois que ela provavelmente estava sangrando pela XXX. O caso repercutiu negativamente para a vida pessoal de Kelly que sofreu bullying dos trumpistas fanáticos por meses seguidos nas redes e pessoalmente.
[2] https://www.youtube.com/live/b6Nqbo2oUgI?si=F_tLnoq0sBOoXKn_
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