A fabricação de narrativas para a eliminação dos conservadores
O preço do fingimento é a eterna submissão à mentira
No anseio da transformação e influência na política e na opinião pública, muitos se deixam esquecer de suas próprias crenças, colocando seus pressupostos abaixo do valor da narrativa falsa que veem como única legítima para alcançar os fins que desejam. O cardeal Ratzinger, certa vez, disse que é próprio da mentalidade ativista impor-se um filtro cognitivo de maneira a só conseguir ver a atuação no mundo daquilo que é mutável, e por definição, provisório. Isso mostra o quanto o legado do professor Olavo de Carvalho se tornou incompreensível e até oposto ao método de debate adotado até mesmo por quem o adula e utiliza como certificado de “anticomunismo”.
Para o leitor desatento, mesmo entre os conservadores, a coleção imensurável de mentiras que a esquerda jornalística despeja todos os dias parece um resultado óbvio da colheita seletiva de fatos convenientes, mas reais, dentro do emaranhado complexo e neutro da realidade. Mas essa é apenas uma parte do funcionamento da máquina de narrativas, pois a incessante repetição de pequenas mentiras atua no imaginário popular de maneira a fazer com que meras interpretações ganhem status de fato concreto para que possam ser noticiadas. Esse processo tem passado tão desapercebido pela imensa multidão que vocifera no Twitter, entre influenciadores e políticos, que arriscamos dizer que o debate já está perfeitamente vencido pela esquerda.
Algumas características básicas do jornalismo são amplamente desconhecidas ainda hoje.
Afinal, noticiar um acontecimento é uma operação vista como descritiva, cujo afastamento do redator parece uma realidade auto-evidente pela própria linguagem com que é veiculada a notícia. Toda a construção jornalística é feita para gerar essa impressão. E é por isso mesmo que o campo jornalístico virou o espaço mais cobiçado por propagandistas e criadores de narrativas: a linguagem dos jornais tem a função de constranger o leitor a acreditar no discurso do fato em si, restando-lhe apenas buscar fatos reais diferentes para uma confrontação.
Esse método de reação, já antecipadamente definido pelos fabricantes da narrativa, contém em si o erro do pressuposto de veracidade empírica do fato, sendo ele, muitas vezes, embasado em uma interpretação, quando não uma simples opinião noticiada como fato. Mas é a linguagem jornalística que dá àquela interpretação, associação ou opinião o selo de objetividade que obriga o leitor a uma conduta de fingimento para ser aceito no jogo de legitimidades que envolve o ambiente sedutor da opinião pública, vista como único detentor dos poderes para os objetivos de mudança social vista como necessária.
Um dos exemplos disso pudemos ver na última semana, com a mentira da Folha sobre os telhados catarinenses nos quais estaria inscrito uma saudação nazista, quando na verdade era o sobrenome do proprietário. Como já mencionei em outro artigo, a publicação provocou um dano irreparável não apenas para a família Heil, mas para todo o país. A resposta do governador Jorginho Melo foi insuficiente, porque nela consta o pressuposto de um erro e concede aos agressores uma explicação, o que confirma a validade pública do xingamento proferido: os meios para lidar com uma jogada que atropela o jogo não podem estar baseados nas regras do próprio jogo que foi ignorado, sob pena de se legitimar a própria violação da regra. A regra passa a ser o fingimento: finge-se que houve um erro e, sobretudo, finge-se que a colunista estava de fato fazendo uma referência à ideologia alemã da Segunda Guerra Mundial, o que é absolutamente falso e, no fundo, sabido por todos. Todos sabem que o objetivo era destruir a reputação de um dos estados mais conservadores do Brasil para, em seguida, criminalizar e desumanizar todos os conservadores como consequência.
Associações com o nazismo são uma imputação de crime. Impostos ao coletivo, trata-se de evidente discriminação, xenofobia e pode ser associado ao racismo. Imaginemos que alguém associe o povo nordestino a alguma ideologia perversa. Qual seria a interpretação na opinião pública? A regra dos debates atuais é essa e não a polidez de respostas que visam fingir uma normalidade, naturalizando e legitimando toda sorte de ataques e agressões. Mas de onde veio o “fato” falso que a Folha “noticiou” através da colunista?
Em 11 de maio, a Agência Pública, site conhecido por falsas checagens e por arrogar-se a posição de fiscalizador da atividade jornalística, publicou uma matéria acusando a Secretaria de Educação do município de Dona Emma (SC) de nazismo ao expor imagens históricas da cidade que continham suásticas. Isso porque a cidade foi palco de um dos partidos nazistas do estado, um fato doloroso da história catarinense que estava sendo lembrado no museu da cidade. No entanto, a Pública não acusaria a BBC nem a National Geographic de apologia ao nazismo por simplesmente expor suásticas em um documentário histórico. Mas quando o assunto é uma cidade catarinense, esse conceito pré-estabelecido é perfeitamente lícito. Mas, ao invés de demonstrar o crime cometido pelo jornalismo, autoridades e políticos de Santa Catarina, assim como ocorre com conservadores diante de fatos parecidos, preferem se justificar e entrar em um jogo de ostentação de oposição ao nazismo, quando não é sobre isso que as matérias difamatórias estão falando. Pior: o que eles estão fazendo é repetir o mesmo método nazista da desumanização pública que precede toda eliminação, instigando um ódio a uma população a partir de associações sabidamente falsas.
O objetivo não é criminalizar a população de Santa Catarina por ser um dos poucos estados em que o PT nunca esteve no poder (e Deus queira que nunca chegue), mas criar um estereótipo odioso que sirva como aviso: não sejam como os catarinenses, que elegem um governador bolsonarista, que votaram majoritariamente em Bolsonaro, que repudiam a esquerda. Não sejam como eles, pois aproveitaremos dos erros do passado para transformá-los no troféu, pendurando-os nos postes como aviso a todos.
O preço do fingimento sempre vem, mais cedo ou mais tarde, seja através de uma submissão humilhante ou à omissão diante de genocídios culturais, étnicos ou religiosos.
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